Ana Andrade
Há coisas que não consigo perceber e uma
delas é a posição da Igreja Católica no combate a SIDA em África. Este é um
tema delicado, um tema sobre o qual muita gente já escreveu e continuará a
escrever, uma vez que não estará para breve uma adequação das leis da Igreja à
realidade do problema. Digo eu.
Escrevo este texto não como uma especialista
no tema, mas sim como uma cidadã a quem provoca revolta a atitude da Igreja. Então
não seria mais fácil a Igreja Católica juntar-se às equipas da cruz Vermelha e
de outras organizações que, em África, tentam a todo o custo fazer as
populações perceberem que usar o preservativo é uma forma de evitar a propagação
da Sida? Será certo condenar aquelas crianças à morte mesmo antes de
nascerem?
Revoltou-me o facto do atual Papa - não
sei precisar quando ocorreu tal situação, mas sei que nunca mais me esqueci – Estando
num país africano onde a taxa de infeção de HIV é elevadíssima em crianças,
contrariou os médicos e sugeriu que em vez do uso do preservativo deveriam
antes fazer abstinência. Ingenuidade da Igreja, porque dificilmente alguém faz
abstinência numa daquelas tribos onde as mulheres são completamente submissas e
onde os homens têm relações com grande parte das mulheres da tribo. Logo, está
visto que essa não é a solução.
Posto isto, volto a questionar: Então
não seria mais fácil a Igreja Católica juntar-se às equipas da cruz Vermelha e
de outras organizações que, em África, tentam a todo o custo fazer as
populações perceberem que usar o preservativo é uma forma de evitar a
propagação da Sida?
Tudo bem que será difícil as populações
aceitarem a utilização do preservativo, mas talvez mais depressa usam um
preservativo do que fazem abstinência.
E para culminar este meu texto,
deixo-vos um pequeno excerto do DR. Júlio Machado Vaz, do seu livro: O Amor é.
“Dir-me-ão que em matéria de certezas
ninguém leva a palma a alguma hierarquia da Igreja Católica. E que todos
adoramos ver o mundo a preto e branco, dividido entre nós e os outros, os quais
— imagine-se a coincidência! — são sempre os culpados, os imorais, os
desviantes, enfim!, os «outros», no que a palavra tem de arrogância
discriminatória e medo ameaçador. De acordo. Se cada vez mais os católicos das
sociedades desenvolvidas consideram do foro privado as suas opções em matéria
sexual, o que a Igreja (não) faz em África no que à utilização do preservativo
e consequente prevenção do VIH diz respeito é de uma cegueira atroz e
mortífera. Talvez um dia ouçamos um pedido de desculpas, mas entretanto a fé de
milhões de pessoas terá contribuído para que sejam dizimadas.”.
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